Arquivo Mara Muricy . MMY
Histórico do Arquivo
O arquivo de Mara Rocha Muricy contém uma série de fontes documentais do músico, violonista e educador Adjacy Sampaio Muricy (1916-1976), seu pai.
Os documentos pessoais incluem certidão de casamento, óbito e declaração de beneficiários.
Já as fontes musicográficas trazem algumas séries de estudos e exercícios didáticos, autorais, para desenvolvimento técnico no violão.
Constam também alguns arranjos em manuscrito ("Vá furando" - Rag Time de José Raymundo F. A.; "Valsa" para Sax, Pistão e Baixo; grade de sopros, sem título, para clarinete, pistão, sax, bombardino e baixo).
O acervo foi encaminhado ao CDM SJC pela Mara Rocha Muricy, ao qual também foi agregada a doação de fontes que estavam sob a guarda de Luiz Paulo Muricy, músico, cavaquinista e neto de Adjacy Muricy.
O acervo testemunha a grande atuação do violonista tanto em São José dos Campos (como educador), quanto como solista, tendo percorrido diversas cidades brasileiras.
Biografia resumida
Todas as informações foram baseadas em pesquisas no acervo familiar de Mara Rocha Muricy e em publicações.
Adjacy Sampaio Muricy
(Senhor do Bonfim/BA, 10.04.1916 – São José dos Campos/SP, 25.06.1976)
Natural de Senhor do Bonfim (Bahia), faleceu em São José dos Campos no dia 25 de junho de 1976.
A trajetória do músico é contada na Revista Violão e Mestres, V.2. N.8, de Dezembro de 1967 (páginas 32 a 34), das quais transcrevemos uma parte do texto original que intitula o artigo "Muricy em São José dos Campos" (mantendo a grafia da época)::
"[...] Em tal cidade, mora, compõe música e toca seu violão, Adjacy Sampaio Muricy. É de lá, mas nasceu em Bonfim, Bahia. Na Boa Terra iniciou seus estudos musicais aos 10 anos de idade. No colégio. Faziam solfejo (cantando, claro!), para os candidatos à Banda. Os alunos escolhiam instrumento pela ordem em que terminavam o método de solfejo. Na sua turma, Muricy terminou primeiro e se decidiu por um instrumento: pistão. O mestre da Banda disse não. Não podia porque era muito pequeno ainda. Que escolhesse outro. Muricy não quis saber: ou pistão ou nada. Acabou vencendo, com a aprovação do diretor do colégio. O menino progredia rapidamente. Aos 12 anos já era contramestre da Banda e já começava a compor pequenas peças, "dobrados" e "polcas" para a Banda. A vocação musical se revelava cedo e encontrava ambiente próprio ao seu desenvolvimento. Foi pistão e mestre na Banda do Exército. Atuou muito tempo como músico profissional, integrando orquestras em vários lugares, Mestre de Banda, para êle a música escrita no papel é sentida como se estivesse sendo executada. Possui um senso musical agudo e preciso, que capta imediatamente sutilezas interpretativas e penetra sem esforço em estruturas complexas.
Veio para São Paulo em 1934.
Moço, queria fazer serenatas e buscava um instrumento para isso. Acostumado à riqueza de recursos da orquestra, achava que só o piano poderia satisfazê-lo. Mas daí iria precisar de um caminhão para transportar o instrumento! Foi a uma loja de músicas, pensando em adquirir um violino. Mas, foi atendido por uma moça que sentiu o problema e lhe falou no violão. E endossou suas palavras colocando na vitrola uma gravação de Andrés Segóvia. Muricy não teve dúvidas e saiu da loja com violão, método e estante. (página 32)

Seus primeiros companheiros de violão foram Alcides Marinho e Antônio Duarte ("Dengo") de Itapetininga. Tocavam de ouvido na boa escola seresteira daquêle tempo.Depois, com o método de Mario Rodrigues Arenas, começou a "advinhar" o violão. Primeiro as notas, depois dedilhado, problemas técnicos. Aos poucos ensinava-se a tocar. Começou a ouvir discos de violão e na década dos 20 assistiu a um concerto de Segóvia e, pouco depois, de Maria Luisa Anido. Observava a técnica e surpreendia-se agradavelmente com a riqueza de matizes possíveis no violão. Seu interêsse pelo violão foi intenso extenso. Como quem descobre um mundo novo, encantado pela descoberta, dispôs-se a tirar dela o maior proveito possível. Pesquisou incansávelmente a literatura violonística e, quando se sentia preparado para isso, deu recitais em inúmeras cidades do Brasil. Apresentou-se na Bahia em Salvador e em Bonfim, sua cidade natal, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e em diversas cidades do nosso Estado.
Sua contribuição à literatura violonística é extensa e variada. Tem 8 composições originais para o instrumento, nas quais deixa entrever talento do compositor e a sensibilidade do instrumentista. Possue também inúmeras adaptações (Muricy não gosta do têrmo "transcrição", acha-o inadequado e insuficiente, já que, na maioria dos casos a transcrição mesmo é impossivel), cêrca de 50, além de revisões de estudos dos grandes didatas do violão, Sor, Carulli, Cano, Aguado e outros. Mostra-nos como trabalhou alguns dêsses estudos - sem transformá-los - mas dando-lhes uma interpretação nova, às vezes com variações que enriquecem o contexto. Sua personalidade é rica e seu interêsse eclético. Mostra-nos adaptações e composições de todos os gêneros, inclusive jazz. Toca a Bachianinha de Paulinho Nogueira, mostrando como a sente.
Para Muricy, o ensino do violão apresenta muitos problemas que precisam ser deslindados com lógica.
Acha que há muito ainda que fazer nesse setor. O professor de violão deve, antes de tudo, dedicar-se ao aluno. Preocupar-se com cada problema particular e dedicar tempo e raciocínio para resolver as dificuldades técnicas como de outra natureza, que porventura venham a surgir.
Fala-nos do método de Mario Rodrigues Arenas, que enfeixa estudos dos grandes mestres, dispostos gradativamente com o fito de proporcionar ao aluno, num só método, aquilo que só encontraria em dezenas dêles. É sua opinião que o método de Arenas, aliado à dedicação do professor é perfeitamente adequado e resolve de um modo prático e particularmente eficiente o problema do ensino.
Mostra-nos seus extensos apontamentos sôbre didática violonística. Seus excelentes resumos dos problemas da técnica, feitos com dedicação e inteligência. Deixamos São José dos Campos, satisfeitos por saber que a cidade bi-centenária conta com um violonista da qualidade de Muricy, cujos ensinamentos se espalham pelas cidades vizinhas, criando um círculo de evolução no Vale do Paraíba." (página 34).










