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NOEL ROSA, 50 ANOS DEPOIS

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Dia:  

22

Mês:  

Ano:  

Agosto

Nome da fonte:  

O Estado de São Paulo

Tipo de fonte:  

revista

Página:  

Edição:  

Editora: 

p. 4

373

vazio

Propriedade da fonte:  

Arquivo online geral

Fundo ou Acervo:

Hemeroteca Digital Brasileira

Link original:  

Endereço (mapa):

R. Quinze de Novembro, 99 - Centro, São José dos Campos - SP, 12210-070, Brazil

Local histórico:

Theatro São José

Nome do(s) artista(s):  

Noel Rosa

Nome artístico ou apelido:  

Função do(s) artista(s):  

Voz, Violão

Instrumento musical:  

Voz, Violão

Noel Rosa

Título da publicação:  

NOEL ROSA, 50 ANOS DEPOIS

Eixo Temático:  

Theatro São José

#samba #pagode #corporacaosaobenedito

1987

Nome do grupo artístico:  

Os Tangarás

Tags:  

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NOEL ROSA, 50 ANOS DEPOIS

O Brasil está comemorando Noel Rosa, agora que transcorreu o 50o aniversário de sua morte. Com maior perspectiva, recordemos uma das personalidades mais pujantes da música popular brasileira, adorado por uns, diminuído por outros, sem dúvida mal-informados sobre as reais qualidades e o drama do artista.
Noel Medeiros Rosa nasceu a 11 de dezembro de 1910 na cidade do Rio de Janeiro, bairro de Vila Isabel, na rua Teodoro da Silva, no 130. A casinha foi demolida e, em seu lugar, existe hoje o edifício Noel Rosa. Seus pais se chamavam Manoel Medeiros Rosa e Marta, e o parto não fora normal: o menino teve de ser extrair a fórceps havendo ligeira paralisia facial do lado direito, atribuída à compressão do nervo. Aos dez meses de idade o garoto venceu um concurso de robustez infantil mas o seu maxilar inferior se conservava quase imobilizado. Desse defeito físico, que só se acentuou com o tempo, decorreram a dieta de líquidos que era obrigado a ingerir, a esquivança de comer em público e, talvez, a própria doença que o vitimou.
A infância de Noel, no entanto, parece ter sido feliz e teria sido "o mais hábil soltador de balões e papagaios da rua Teodoro da Silva"(1). A Grande Guerra, porém, provocou a falência do pequeno negócio do pai, obrigando-o a procurar meios de subsistência no interior, e à mãe a organizar uma escolinha em sua casa. Aos 13 anos, Noel ingressa no colégio São Bento, mas o contato diário com centenas de meninos só favoreceria o aumento do complexo de inferioridade que já se fazia sentir. Os mestres não souberam compreendê-lo, a tal ponto que tentou suicidar-se, atirando-se pelo barranco abaixo. De 1923 a 1928 vêmo-lo naquele educandário, e muito se esforçou por ser bom aluno.
Aos 13 anos começou a tocar bandolim de ouvido, mas desde muito antes mostrava inclinação para a música e sobretudo para a poesia. Aos 15 conheceu Sinho, cuja música exerceu alguma influência sobre as primeiras produções de Noel, assim como teve peso a camaradagem com José Sabiá. Em 1929 já manejava o violão com desembaraço e preparava então o vestibular da Faculdade de Medicina começavam as serenatas e possuía um grupo de admiradores. Gostava também de fazer caricaturas e escrever pensamentos, aliás sem especial interesse artístico e literário.
Com o aparecimento do Bando de Tangarás, já por Vasco Mariz 1930, Noel Rosa começou a fazer-se conhecido. Almirante, João de Barro, Alvinho e Henrique Brito eram do grupo. A seu primeiro sucesso, Com que roupa? Jacy Pacheco empresta significação patriótica, pois a primeira frase é a do Hino Nacional Brasileiro, mas Almirante lembra-se bem de que foi simples acaso, havendo Homero Dornellas mudado algumas notas do original para evitar a semelhança total. Em 1931 excursionou a São José dos Campos e Vitória com Benedito Lacerda, Russo do Pandeiro e Canhoto e os lucros foram escassos. Nessa altura já cantava na Rádio Philips do Brasil, ilustrando o programa Casé, e, em 1932, Mangione editava diversas obras suas. No ano seguinte, Fita Amarela constituiu enorme sucesso para o carnaval e firmava seu nome.
Também em 1932, conheceu a Oswaldo Gagliano (Vadico) na fábrica de discos Odeon e daí nasceu a parceria que daria excelentes frutos: Cem Mil Réis, Conversa de Botequim, Feitiço da Vila e outros. No entanto, essa associação com Vadico tem-se prestado a muitos comentários desencontrados sobre o grau da colaboração, isto é, até que ponto teria Vadico escrito a música daqueles sucessos. A verdade é que Noel não sabia escrever música, embora fosse exímio violonista, dotado de prodigiosa musicalidade. A corrente que costuma diminuir o mérito do compositor de Vila Isabel quer limitar somente aos versos a participação de Noel em seus êxitos de parceria. Todavia, se examinarmos a sua obra em conjunto, verificaremos uma continuidade formal que trai uma orientação única, tão peculiar a ele. Com a personalidade bem delineada de Noel, a música a brotar de cada verso, as obras que escreveu de parceria devem conter mais do que os simples 50% do poeta. Voltarei ao assunto mais adiante.
Travou curiosa polêmica musical com Wilson Batista sobre as vantagens e qualidades de Vila Isabel. havendo troca de sambas mordazes e que culminou com o magistral "Quem é você que não sabe o que diz?" (Palpite Infeliz). Em 1932 realizara a sua excursão a Porto Alegre, Curitiba e outras cidades de Sul, acompanhado dos cantores Francisco Alves e Mário Reis e do pianista Nonô. O sucesso não foi grande e, de volta ao Rio, vêmo-lo na Rádio Clube escrevendo Era chamado o Filósofo do Samba", mas,na realidade nunca foi o poeta social que muito querem crer duas comédias musicais: A Noiva do Condutor e Ladrão de Galinha. Os originais que possuía Almirante revelam segurança no escrever e poucas rasuras em sua letra clara, embora irregular.
Em dezembro de 1933 casava-se, mas pouco depois era forçado a partir para Belo Horizonte, em busca de melhor clima. Lá engordou doze quilos, apesar de não haver abandonado de todo a boêmia: conheceu Hervé Cordovil e com ele escreveu dois sambas. Na primavera de 1935, ei-lo de novo no Rio, mas com pouca vontade de seguir as prescrições médicas de repouso e vida regrada. Agravou-se a depressão com o suicídio do pai, já havia tempo internado em uma casa de saúde e tomaria então a trágica decisão de gozar livremente os últimos anos de vida que lhe restavam. Era o começo do derradeiro período da obra de Noel Rosa, com um travo de amargura a brotar-lhe da poesia, a embargar-lhe a voz.

Quem é que sofreu mais do que eu?
Quem é que já me viu chorar?
Sofrer foi o prazer que Deus me deu!
Eu sei sofrer sem reclamar.
Quem sofreu mais que eu não nasceu;
Com certeza, Deus já me esqueceu...

Os sucessos, no entanto, continuavam: Pierrot Apaixonado, com Heitor dos Prazeres, Não resta a menor dúvida, com Hervé Cordovil, Conversa de Botequim, com Vadico, O orvalho vem caindo, com Kid Pepe, Pastorinhas, com João de Barro (3) etc. Em 1936, vêmo-lo em Friburgo, já com a saúde alquebrada: "Repousa durante o dia naquela pensão para rapazes
fracos... Os que fazem plantão, os que trabalham de noite o conhecem pessoalmente e fazem com ele deliciosas serenatas, através das ruas perfumadas e quietas" (Jacy Pacheco, p. 144). Volta ao Rio e depois decide visitar Pirai. De lá regressou moribundo e a 4 de maio de 1937, finalmente, entregava a alma ao Criador, sendo enterrado no Cemitério do Caju.
Muito se tem escrito e falado sobre a personalidade e a obra de Noel Rosa. É mesmo possível que o lado romântico de sua vida e a morte tão prematura tenham contribuído para o desmesurado engrandecimento de seu nome na história da música popular brasileira.
Verdade ou não, parece-me indiscutível o mérito do cantor de Vila Isabel. Possuía uma veia inesgotável, tanto poética quanto musical, embora as suas noções de música tenham sido muito rudimentares e jamais lhe tenham permitido escrever diretamente em uma pauta qualquer de suas composições. Dependia sempre de parceiros para a fixação de seu gênio musical, para a divulgação dos produtos de sua musicalidade extraordinária. No entanto, Almirante conta que o viu diversas vezes corrigir no violão harmonias de outros melhor preparados do que ele na técnica musical. Em virtude dessa dependência já se julgou erroneamente
Noel como um poeta apenas, esquecendo, porém, que existe uma diretriz musical que liga Com que roupa? (1930) a De babado... (1936), a revelar, a respeito das parcerias, a personalidade inconfundível de Noel Rosa.
Sua melodia não era rica nem muito variada, mas ninguém como ele soube unir os versos ferinos ou sentidos que redigia à música singela e picante com que
os comentava. Julgaríamos que as palavras as notas nasceram juntas, tão espontâneas parecem. O exemplo, no entanto, já não único na música popular brasileira, pois Dorival Caymmi e Chico Buarque, autores das letras de suas próprias músicas, revelaram-se poetas e compositores de mão cheia, seguramente à altura de Noel, embora cantando outras musas e outras paragens, com música bem diferente também.
Mas voltemos a Noel Rosa e falemos de seus parceiros, que, afinal, tanto contribuíram para a glória do canto da Lapa e de vila Isabel Quase todos os principais compositores populares da época colaboraram com ele, a saber Vadico (9 obras), Ary Barroso (3).

Vasco Mariz é musicólogo e diplomata. E autor de, entre outros livros, Canção Brasileira.

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