Pela Cidade - Carnaval

Foi um verdadeiro delirio o fogueado carnavalesco nesta cidade, no ultimo dia para esse fim convencionado pelo calendario da troça.
Em todas as dependencias do theatro, que foi o centro de todos os divertimentos, principalmente na platea e nos camarotes, não se respirava outra cousa sinão o conteudo de milhares de ampolas do afamado «Rodo», cujo stock nesta cidade, foi disputadissimo, por preço exorbitantes.
De confettis e serpentinas se alcatifaram as ruas e o theatro, as ruas, de tal modo, que os encarregados da limpeza publica acharam mais pratico incinerar antes de remover, a trama enorme e multicor do papel picado, ali atirado pelo delirio febril do carnaval; no theatro ao ponto do constituir um serio perigo a saude publica, ao asseio dos fatos de quem ali se encontrasse, mettido ou não na folia, e... cala'te boca...
Deante de tudo isso ha quem fale em crise, em carestia da vida e em outras cousas tectricas que o carnaval desconhece...
Tanto delirio, tanta fascinação, tudo isso serve para mais aggravar o soffrimento dos pobres, desses desherdados da sorte, que muitos dias não sabem como obter um pedaço de pão para si e, o que é mais triste ainda para os seus filhinhos. Infelizes!
Quaes outros Ahasverus, que c'o a mão viu viu a tetra cheia—elles mais se humilham quanto maior é o brilho e mais ruido só n èco da festança.
A occasião é opportuna para fazermos um appello em favor dos pobres. Ha nesta cidade cinco conferencias de S. Vicente, todas tendo ao seu cargo prestar soccorros a familias pobres, mas honestas.
Só uma dessas conferencias, ao que sabemos soccorre treze familias. Heroes que sois da folia, sede tambem amigos do pobres e apostolos da caridade. Favorecei aos necessitados e tudo quanto fizerdes por elles ha de reverter em chuvas de bençãos sobre as vossas cabeças.
Favorecei aos necessitados, por intermedio da obra grandiosa de S. Vicente de Paulo e escutai o que diz o poeta: «Lançai a esmola, e colhereis a prece!»

VAN TRICASSE